Uma Visão Geral do Curso “Aprendendo a Aprender”, de Barbara Oakley

Gabriel Pulga
11 min readFeb 17, 2021

Introdução

O ideal da educação não é aprender ao máximo, maximizar os resultados, mas é antes de tudo aprender a aprender, é aprender a se desenvolver e aprender a continuar a se desenvolver depois da escola.

Jean Piaget

Recentemente tive a oportunidade de completar o curso “Aprendendo a Aprender” e decidi escrever esse resumo para assimilar melhor os conceitos ensinados durante suas quatro semanas de duração.

Os ensinamentos desse curso servem para todos aqueles interessados na psicologia por trás do aprendizado e também para os que desejam se beneficiar sendo mais produtivos no trabalho, estudo ou em qualquer área da vida onde aprender seja um fator importante.

Ao escrever as seguintes notas, pude botar em prática os ensinamentos do curso e julguei serem efetivos ao ponto de realmente terem me beneficiado.

Sem muitas delongas — e com agradecimentos aos instrutores do curso — espero que você também possa se beneficiar do meu esforço caso decida botar em prática as seguintes ideias.

Modo Difuso vs Modo Focado

Temos dois modos fundamentalmente diferentes de pensar.

Quando sentamos e nos concentramos em algo, naturalmente entramos no modo focado, onde nosso cérebro tenta encontrar memórias conectadas ao problema que temos diante de nós.

O modo difuso, por outro lado, é um modo de exploração onde não temos certeza do que estamos procurando e por isso divagamos até aparecer algo que sentimos que é certo.

Ao mudar o estado de pensamento do nosso cérebro, damos mais espaço para ele correr livre e entender conceitos e ideias de uma melhor maneira.

Não podemos atuar nesses dois modos ao mesmo tempo mas precisamos dos dois para resolver problemas complexos.

O método de Dali

Ele relaxava em uma cadeira e deixava sua mente ficar livre. às vezes ainda pensando vagamente sobre aquilo em que estava previamente focado.

Ele teria uma chave em suas mãos, balançando-a um pouco acima do chão.

E assim que ele começasse a sonhar, caindo no sono, a chave cairia de sua mão e o barulho o faria acordar, bem a tempo dele poder reunir as conexões do modo difuso e as ideias em sua mente.

E então voltava para o modo focado trazendo com ele as novas conexões que ele tinha feito no modo difuso.

Em resumo, nosso cérebro precisa alternar as formas de aprender a medida em que apreendemos e assimilamos novos materiais.

Procrastinação

Todo mundo em algum ponto de sua vida lidou com problemas relacionados com procrastinação

Quando olhamos para algo que preferiamos não fazer, ativamos as áreas do nosso cérebro ligadas à dor.

Naturalmente, procuramos uma forma de parar com aquele estímulo negativo e com isso mudamos nossas atenção para fazer outra coisa mais agradável.

O resultado é que nos sentimos mais feliz, temporariamente.

A verdade é que a procrastinação tem o potencial de se tornar um hábito muito ruim, similar a um tipo de vício (no sentido de oferecer gratificação instantânea e alívio) que não só atrapalha nossos estudos e trabalho, mas todas as áreas de nossas vidas que demandam atenção.

Essa não é uma característica de nascença ou impossível de mudar. Ela pode ser controlada de uma maneira que nos tornemos os mestres de nossos próprios hábitos e não o contrário.

A técnica pomodoro

A Técnica Pomodoro é um método de gerenciamento de tempo desenvolvido por Francesco Cirillo no final dos anos 1980.

A técnica consiste na utilização de um cronômetro para dividir o trabalho em períodos de 25 minutos, separados por breves intervalos.

O método é baseado na ideia de que pausas frequentes podem aumentar a agilidade mental.

Ao utilizar a técnica de Pomodoro, nosso cérebro tem a oportunidade de trabalhar nos bastidores e ajudar na compreensão de conceitos durante o período de relaxamento.

A seguir são algumas dicas para vencer a procrastinação :

  • Mantenha um planejamento para que você facilmente siga quando atingir suas metas e possa observar o que funciona e o que não funciona.
  • Comprometa-se a certas rotinas e atividades todo dia. Escreva as atividades planejadas na noite anterior para que seu cérebro tenha tempo de lidar com seus objetivos e ajudar a assegurar o sucesso.
  • Monte seu trabalho como uma série de pequenos desafios.
  • Certifique-se sempre de que você ganhe muitas recompensas.
  • Aproveite por alguns minutos a sensação de felicidade e triunfo, o que também dá ao seu cérebro uma oportunidade de temporariamente trocar de modo.
  • Propositalmente atrase as recompensas até você ter completado a tarefa.
  • Tente se colocar em um ambiente com poucas oportunidades para procastinação tal como uma seção silenciosa de uma biblioteca.
  • Confie em seu novo sistema.
  • Você quer trabalhar duro nos momentos de concentração focada e também confiar no sistema o suficiente para que quando chegue a hora de relaxar, você verdadeiramente relaxe sem sentimento de culpa ou preoculpação.
  • Tenha planos reserva para quando você ainda procastinar. Ninguém é perfeito, apesar de tudo.
  • Coma primeiro seus sapos a cada dia (fazer primeiro aquilo que é mais difícil).

Hábitos

O ambiente é a mão invisível que molda o comportamento humano. Você não precisa ser vítima do ambiente. Também pode ser o arquiteto.

James Clear

A formação de hábitos nos permite realizar tarefas em segundo plano, de uma forma quase sem pensar.

Hábitos podem ser bons ou ruins, de longa ou curta duração e podem ser desconstruídos em 4 partes :

  • Deixa — O gatilho que dá início ao hábito.
  • Rotina — A resposta habitual que você desenvolve após receber a deixa.
  • Recompensa — O motivo que os hábitos se desenvolvem e são mantidos. Geralmente é uma sensação de prazer imediato, como por exemplo ligar seu telefone e ver mensagens de algum amigo.
Exemplo de deixa, rotina e recompensa de um hábito de corrida.
  • Crença — Aquilo que nos move por trás do hábito. Para mudar qualquer hábito, primeiro precisamos acreditar que conseguimos mudar.

Identificar as deixas e modelar recompensas para que se apliquem a rotinas positivas é o caminho para criar hábitos bons em nossas vidas.

Memórias de Curto e Longo Prazo

Na memória de longo prazo, armazenamos conceitos e técnicas fundamentais que muitas vezes estão envolvidas no que quer que estejamos fazendo.

Temos duas memórias, a de curto prazo onde estão as informações que utilizamos em um dado momento, e a de longo prazo que funciona como um grande armazém.

O armazém de memória de longo prazo é imenso, com espaço para bilhões de itens que podem enterrar uns aos outros, portanto pode ser difícil lembrar de certas informações a não ser que sejam repetidas algumas vezes.

Se desejamos mover alguma informação para o armazém, isso por vezes demora e exige prática.

Técnica da repetição espaçada

Esta técnica envolve repetir o que está tentando reter, mas o que você quer fazer é espaçar esta repetição.

Repetindo um novo vocábulo ou uma técnica de resolução de um problema, por exemplo, por alguns dias.

Estender a sua prática por alguns dias faz de fato diferença.

Pesquisas mostram que se está tentando colar coisas na sua memória repetindo-as cerca de 20 vezes em uma noite, por exemplo, não fixará nem de longe tão bem como se praticar o mesmo número de vezes ao longo de alguns dias. Isto é como construir a parede de tijolos que vimos anteriormente.

Se não der tempo à argamassa para secar, tempo para que as ligações sinápticas se formem e fortaleçam, não terá uma estrutura muito boa.

A importância do Sono

Produtos tóxicos são acumulados em nossos cérebros pelo simples fato de estarmos acordados.

Acontece que, quando dormimos, as células do cérebro encolhem, aumentando o espaço entre elas.

Isso é como o desbloqueamento de um riacho.

Os fluidos passam pelas células e lavam as toxinas, ou seja, dormir mantém nosso cérebro limpo e saudável.

Dormir é tão importante para o corpo quanto para a mente.

Durante o sono, nosso cérebro também exercita algumas das partes mais complicadas do que tentamos aprender, repetindo várias vezes os padrões neuronais para os aprofundar e fortalecer.

Se revisarmos o que estamos a aprender antes de dormir, aumentam-se as chances de sonhar sobre o assunto, onde também aumentam substancialmente a nossa capacidade de compreensão sobre ele.

Associação em Blocos — Chunking

Um bloco é formado ao tentar primeiramente entender um conceito importante e depois descobrir onde usá-lo.

Por exemplo, ao ser dada a tarefa de aprender programação, seria muito mais difícil aprender uma linguagem inteira de uma vez do que aprender pequenos conceitos, como loops ou parâmetros, e praticá-los em exercícios.

Formar um bloco pode ser difícil pois as vezes é complicado identificar os conceitos importantes de aprender e descobrir onde aplicá-los.

Apesar da dificuldade, é nessa tarefa exata que devemos aplicar nosso tempo e esforço.

O caminho até a especialidade é construído de bloco em bloco até que os blocos se tornam cada vez maiores, eventualmente levando até um nível de interpretação criativa do material.

Aprender geralmente envolve encaixar peça a peça, dia a dia, sólidas estruturas neurais.

O processo de fazer as coisas do jeito difícil é chamado de prática deliberada.

Gastar tempo com coisas que acreditamos ser difíceis é o que faz mentes medianas se tornarem mentes brilhantes.

Como formar blocos de memória?

O primeiro passo no processo de associar blocos de memória é simplesmente focar toda a sua atenção na informação que você quer processar em blocos.

Se você estiver com a televisão ligada ao fundo, ou se você estiver a cada minuto verificando ou respondendo as mensagens no celular ou no computador significa que você vai ter mais dificuldades em criar blocos de memória, porque seu cérebro não está realmente focado em processar um novo assunto.

Quando você começa a aprender algo, você está criando novos padrões neurais e conectando-os com padrões preexistentes que estão espalhados por muitas áreas do cérebro.

Aprender pode acontecer de 2 maneiras: De baixo para cima, há um processo de associar em blocos de memória em que prática e repetição pode ajudar você a construir e reforçar cada bloco de memória. Você pode facilmente acessá-lo sempre que precisar. E há também, uma espécie de processo de cima para baixo que você tem uma visão geral que permitirá a você ver que o que você está aprendendo e onde ele melhor se encaixa.

Os dois processos são vitais em ganhar domínio sobre o assunto. O contexto é onde o processo de baixo para cima e de cima para baixo se encontram.

Folheando rapidamente um capítulo de um livro, antes mesmo de você começar a estudá-lo, olhando de relance para as figuras, e para os subtítulos podem permitir que você tenha uma boa noção do panorama geral do assunto.

Ao formar blocos de memória, é importante não cair em ilusões de competência.

Ler e reler o mesmo material de um livro é muito menos produtivo do que usar alguma técnica de recordação, que pode ser simplesmente olhar para o lado e tentar lembrar do material que foi lido.

Esse processo ajuda na formação de blocos sólidos de memória pois nosso cérebro é utilizado de uma forma mais ativa no caminho até o conhecimento.

Einstellung

Para aqueles que têm apenas um martelo como ferramenta, todos os problemas parecem pregos.

O caminho ao conhecimento é construido de bloco em bloco.

Einstellung é uma palavra alemã que descreve um jeito antigo de pensar e fazer as coisas, que acabam atrapalhando no caminho de aprender formas melhores de realizar as mesmas tarefas.

É importante estar ciente desse fenômeno ao estar aprendendo a aprender.

O filósofo Thomas Kuhn descobriu que a maioria das mudanças de paradigmas na ciência são produzidas por pessoas novas, ou pessoas que foram originalmente treinadas em disciplinas diferentes.

Essas pessoas não são tão facilmente presas pelo Einstellung, pensamentos bloqueados devido a seu treinamento anterior.

E claro, existe aquele velho ditado que diz que a ciência evolui de funeral em funeral, à medida que as pessoas entrincheiradas na velha forma de pensar vão morrendo.

Ou seja, devemos ter uma mente aberta e não ter medo de fazer as coisas de um jeito diferente.

Renascimento da Aprendizagem e Como Destravar seu Potencial

Se você pensa que pode ou se pensa que não pode, de qualquer forma você está certo.

Henry Ford

Dica #1

O melhor presente que que pode dar ao seu cérebro é exercício físico.

Se exercitar ajuda os neurônios a sobreviverem e é de longe mais eficaz que qualquer droga existente no mercado para ajudar a aprender melhor, além de beneficiar todos os órgãos vitais, não apenas o cérebro.

Dica #2

Pensar no longo prazo é menos estressante e geralmente mais recompensador que a alternativa.

Aprender não funciona como um gráfico linear, mas sim como uma escada.

É normal passar por períodos de trava ao olhar para nosso aprendizado durante um período de tempo de dias ou semanas.

Devemos focar no longo prazo e considerar períodos no mínimo anuais para medir nosso crescimento.

Dica #3

Metáforas e analogias nos ajudam a compreender conceitos de forma mais visual e sólida.

Uma metáfora é apenas uma maneira de perceber que uma coisa é de alguma forma semelhante a outra.

Ideias simples como a descrição do formato de tigela da Síria ou visualizar a corrente elétrica como água podem permanecer com um aluno por décadas.

Dica #4

Uma coisa em relação a neurociência está ficando clara, podemos fazer alterações significativas nos nossos cérebros ao mudar a forma como pensamos.

Ou seja, o que pensamos por dentro nos afeta por fora.

Se nos sairmos bem em nossos estudos, pessoas ao nosso redor podem se sentir ameaçadas.

Quanto maiores nossas conquistas, mais as outras pessoas, às vezes, irão atacar e rebaixar nossos esforços.

Por outro lado, se falharmos num teste, podemos também encontrar críticos dizendo não possuírmos o que é necessário.

É importante aprender a trocar para um ocasional desapego frio que ajudará a não focar apenas naquilo que estamos tentando aprender mas também a se desconectar das pessoas ao descobrir que o interesse delas é nos sabotar.

Por último, não devemos ter medo de usar nossa contrariedade natural, aquela que possui o propósito único de desafiar preconceitos sempre presentes dos outros sobre o que podemos realizar.

Notas finais

Esse curso realmente me ajudou a entender melhor sobre os conceitos referentes ao processo de aprendizado, porém o fator mais influente nessa jornada foi bem simples : começar.

Mesmo sem todas as condições favoráveis, dar o pontapé inicial é essencial e é o que realmente diferencia quem aprende algo novo de quem simplesmente não aprende.

Após o início da jornada, usar os sistemas explicados durante esse curso para ser mais produtivo e não cair em ilusões de competência torna o sucesso de qualquer objetivo extremamente provável.

Por fim, meus sinceros agradecimentos aos instrutores do curso e a quem leu até aqui. Qualquer feedback vai ser muitíssimo bem-vindo.

Obrigado.

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Gabriel Pulga

DevOps/SRE Engineer from Brazil. Check out my github at @gabrielpulga